São Lourenço das Missões, Vila Seca, Capital das Missões, 25 de março de 1953.
Na casa dos “Borges”, Vergilio e Cristina, ao som de alguma rádio “correntina” aguardavam o nascimento de Luiz Carlos, para sempre o seu caçula.
A visão romantizada que traremos nesta homenagem, sem exageros, é a mesma da sonoridade múltipla implementada por este cantautor que ao longo de sua vida fez da música sua passagem.
Vida ?
Sim!!
Mais que uma carreira, Luiz Carlos Borges representa uma trajetória de vida na cultura riograndense e sul americana trilhada desde suas origens missioneiras até o momento da coragem de agregar ao seu repertório tudo que há de melhor na música, sempre acompanhado da sua formação acadêmica.
Artista, homem público, foi administrador cultural e deixou um legado de inúmeros discos gravados e composições esparsas, muitos deles clássicos da música nativista.
Sua primeira gravação com os Irmãos Borges remonta ao ano de 1971.
Luiz Carlos tinha apenas 18 anos de idade e assinou um LP gravado no país vizinho pelo Selo País intitulado “Argentina y Brasil con Los Hermanos Borges”.
A prova da virtuosidade poderia ser apenas com essa menção.
Com “Os Borges” viria a gravar mais dois discos, em 1973 com participação de Raulito Barbosa também na Argentina, e em 1976 com produção de Ayrton dos Anjos.
Mas, sem esforço algum, é possível vislumbrar uma certa magia em cada ato promovido pelo artista.
A trajetória com seus irmãos se deu até 1979, sendo o último baile na companhia familiar em dezembro daquele ano na cidade de Ijuí.
Um dia antes daquele sábado de “fandango” subiu ao palco da 9ª Califórnia de Uruguaiana para interpretar junto com seus parceiros do Grupo Horizonte a canção “Tropa de Osso”, com letra de Humberto Gabbi Zanatta.
A assinatura da melodia era “borgeana”. A música foi vencedora da Linha de Manifestação Riograndense entre outros prêmios.
Surgia o cantor nativista que depois dessa incursão, veio a vencer dois festivais que inauguravam seus palcos. A 1ª edição da Tertúlia Nativista em Santa Maria, onde interpretou a composição vencedora “Minuano”, também com letra de Zanatta, e em 1981 na Coxilha de Cruz Alta onde venceu com “Léguas de Solidão”, reprisando a dupla.
Entre esses dois êxitos, na 10ª Edição da Califórnia, em 1980, elevaria a negritude de “Pacácio e Maria” como símbolos do amor na pampa interpretando “Romance da Tafona”, de Antonio Carlos Machado.
A vitória no festival pioneiro, no entanto, somente chegou junto a 21ª edição, em 1991 com a composição “Florêncio Guerra e seu Cavalo” onde assina a melodia da letra de Mauro Ferreira e faz parte da interpretação.
Mais duas Calhandras de Ouro viriam a fazer parte de seu acervo. Com “Forasteiro”, da 27ª Califórnia, novamente compondo a melodia em “Laçador de Barro”, da 32ª edição, em 2003.
Luiz Carlos Borges cursou música na Universidade Federal de Santa Maria e fez uso da voz catedratica para encarnar a figura do administrador público no setor de cultura.
Em 1980 esteve à frente do Centro Cultural Municipal e da Biblioteca Pública de Santa Maria. Em 1982 assumiu a Assessoria de Cultura e Turismo de São Borja tocando o importante projeto “São Borja 300 anos de História”.
Em 1983 é empossado como assessor de Cultura e Turismo na cidade de Santa Rosa onde se dedica e idealiza o Projeto que deu origem ao Musicanto Sul-Americano de Nativismo.
É o primeiro festival na América do Sul a admitir músicos e composições nativas originárias de vários países sul-americanos.
Na carreira de Borges foram mais de 32 discos gravados, dentre eles pérolas raras como o LP “Solo Livre”, um instrumental de 1986 onde desfila sua habilidade de instrumentista, tanto nas suas composições quanto com músicas de parceiros e ídolos como Isaco Abitbol e Heráclito Perez.
Também podem ser citados o LP de 1991 onde divide as atenções com Antonio Tarragó Ros e em 1992 onde navega em águas universais com o CD Geraldo Flach e Luiz Carlos Borges.
Em outro trabalho, de 2010 convidou os amigos argentinos para uma participação em cada música. Em uma delas, “Misionera” parceriou com “La Negra” Mercedes Sosa.
Seu repertório estava sempre repleto de chamamés, milongas, vaneirões, e alguns ritmos brasileiros, tudo de muito bom gosto e beleza estética.
Em uma oportunidade, entrevistado pelo apresentador argentino Lalo Mir, em 2014 no programa “Encuentro en el Estudio”, afirmou que antes de “Tropa de Osso” não havia preocupação com a estética melódica, justamente por ser um cantor “de baile”.
Com cinquenta anos de carreira completados naquele ano gravou DVD e CD com seus grandes êxitos.
Mas o que também nos faz homenagear o cantor e instrumentista é sua proximidade com o Festival Nativista Canto de Luz. Fez parte da comissão julgadora e nosso “Embaixador”. (foto a baixo)
Distinguiu no Festival uma porção de “sua” de busca do inédito e sem dúvida, é possível afirmar, de novos amigos.
Foi condutor das visitas de Antonio Tarragó Ros e Mario Boffil.
Realizou o lançamento internacional do Canto de Luz em 2017 na Festa Nacional del Imigrante no palco de Oberá-Missiones-Argentina.
Porto Alegre, 10 de maio de 2023, Borges partiu para outra dimensão, mas não morreu. Foi tocar seu acordeon no outro lado da vida.
Ao que nos for possível desejamos que vá em paz amigo “Embasador”, pois nesse momento:
“…quebrou o vidro dos olhos e nos fez chorar…”
O Festival Nativista Canto de Luz é um evento realizado pela Prefeitura de Ijuí, através da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo e Associação Cultural Canto de Luz, com apoio das forças vivas da comunidade.